terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Novas drogas para câncer de mama

Bye bye, bicho-papão

O câncer de mama HER2, um dos mais agressivos, já pode ser controlado com o trastuzumabe, medicamento de alta precisão e nível de tolerância, antes só utilizado no tratamento de metástase
Roger Hayas

Trastuzumabe. Este medicamento de nome complicado está simplificando e muito o tratamento de tumores de mama HER2 Positivo, uma das mais agressivas e temidas formas de manifestação da doença até meados do ano passado. É que de lá pra cá a droga – utilizada em tratamentos das metástases deste tipo de tumor desde 2001 – passou a ser utilizada no pós-operatório, com resultados animadores.

Com isso, e ao contrário do que acontecia anteriormente, médicos e pacientes mudaram sua forma de olhar para o anteriormente assustador HER2. Diante do novo recurso, o diagnóstico passou a ser dado de forma positiva, o que há pouco tempo seria impensável.


Que bicho é esse? O HER2, do inglês Human Epidermal Growth Factor Receptor 2, é uma proteína relacionada à divisão e crescimento da célula normal. Segundo Patrícia Teresa Valentini de Melo, ginecologista e mastologista do Hospital Beneficência Portuguesa, “a proteína tem um importante papel nas células normais. No entanto, sua superexpressão resulta numa produção anormal dos receptores na superfície da célula, o que acelera a proliferação celular. Isso contribui para o desenvolvimento do câncer”.

De acordo com Vladmir Cláudio Cordeiro de Lima, oncologista clínico do Hospital do Câncer A.C. Camargo, os resultados do novo uso do remédio mudam completamente a maneira de encarar o problema. “Normalmente as pacientes HER2 Positivo têm um prognóstico pior, mas o que a gente viu foi que o trastuzumabe igualou a sobrevida delas àquelas que não tinham esse marcador”, comemora ele.

Atualmente, o medicamento participa de quatro frentes de estudos em âmbito mundial, nas quais são analisadas as reações em torno de 12.000 pacientes com câncer de mama. Na pesquisa no cenário pós operatório (adjuvância), com relação ao risco de recaída do câncer, o tratamento tradicional livrou 67,1% das pacientes da recaída, enquanto, com o uso do medicamento, 86,6% não tiveram recaída. “É um número muito significativo. Esses estudos foram dos mais animadores que a gente já viu até hoje em oncologia clínica. Normalmente, os benefícios que a gente vê no tratamento pós cirúrgico não são dessa monta”, explica o médico.

Mais precisão Além de favorecer a eficácia da quimioterapia, a droga é capaz de atacar justamente os receptores HER2, sendo ineficaz para o tratamento dos demais subgrupos da doença. Com o uso do trastuzumabe agora na adjuvância, as pacientes começam a receber a informação do tumor em clima de otimismo. Segundo Silvio Bromberg, membro do Conselho Científico da Associação Brasileira do Câncer e mastologista do Hospital Israelita Albert Einstein de São Paulo, o medicamento “oferece um tratamento específico com um anticorpo monoclonal, que inibe o crescimento de células do câncer mamário”, explica.

“Quando me deram a notícia de que o câncer era HER2 Positivo, me foi transmitido como algo positivo”, relata Eleonora Antici Rodrigues, de 35 anos. Caminhando para o término do tratamento, em novembro, Eleonora diz que o “tratamento foi um sucesso, inclusive sem efeitos colaterais”. A paciente repetiu todos os exames em julho, que apontaram não haver nenhuma evolução da doença, sem recidivas.

As subcategorias do câncer de mama
O HER2 Positivo pertence a uma das três subcategorias de tumores de mama até então conhecidas, baseadas na ampliação das proteínas expressas pelo tumor (os marcadores imuno-histoquímicos). São eles: o subgrupo dos Tumores Positivos para Receptores Hormonais (receptor de estrógeno e receptor de progesterona) e Negativos para HER2, o subgrupo dos Tumores Receptor HER2 Positivo, e os chamados Triplo Negativos (com os três receptores negativos).

Destes, o HER2 positivo, representando 20% a 30% dos tumores de mama, e o Triplo Negativo, representando 15%, são considerados os tumores com prognóstico ruim. Contudo, o novo uso do trastuzumabe iguala o prognóstico das pacientes HER2 positivo ao prognóstico dos tumores sem a superexpressão do HER2 – desde que estejam no mesmo estágio.

Ajuda pode estar em casa
Que o azeite de oliva faz bem à saúde todo mundo sabe. Responsável pela diminuição do colesterol ruim e coadjuvante no tratamento de combate à gordura no sangue, o azeite pode se mostrar agora com outro fim positivo à saúde.

Um estudo realizado pela Universidade de Northwestern, em Chicago, Estados Unidos, pode trazer uma nova luz sobre o papel preventivo do azeite de oliva, desta vez contra o câncer de mama. Segundo o estudo, ácido oléico (principal ácido graxo do azeite de oliva) ajuda na neutralização do gene HER2. De acordo com a pesquisa, o resultado abre um caminho importante de pesquisa da relação entre a alimentação e o tratamento e prevenção do câncer de mama.

Outra conclusão do estudo foi a de que o ácido oléico pode ter um papel positivo na performance do trastuzumabe. Este experimento desvenda parcialmente mecanismos moleculares pelo qual o ácido oléico traz benefícios para a saúde. A pesquisa chegou à conclusão de que o ácido oléico do óleo de oliva bloqueia a ação do gene que acelera a produção da proteína HER2. O estudo foi feito em laboratório com células de câncer de mama.
 

Carlos Terra | meu contato